quinta-feira, 5 de março de 2015


Já levávamos nos olhos a tristeza de não nos veres
já tínhamos tatuado em nós a dia em que partirias
já sabíamos que o inevitável de quem nasce é morrer
já sabíamos que te cansaste muito em cuidar e sorrir sem vontade
já sabíamos que acontecesse o que acontecesse eras nossa
mas...
sendo nossa terias que ir
sendo nossa foste-nos emprestada e teríamos que devolver-te
sendo um oásis teríamos que conhecer o teu entardecer
sabíamos que o dia chegaria 
chegou
foste
e sabes?
Sinto-te agora aqui,ajudas-me a colher as flores para a jarra
ajudas-me a secar os pratos
ajudas-me a sorrir porque era o que farias,
chorar era só às escondidas
não tenho a tua força 
mas tenho a tua saudade
tenho aquele toque nas tuas mãos geladas
aquele toque no teu rosto que me respondeu com um trejeito que não entendi
tenho-te agora mais que nunca porque o que é de Deus é de todos os seus filhos,não partiste para sempre,e sei que me esperas,
já não nos vamos sentar nos degraus da tua casa,
agora sento-me junto aos degraus da vida que me deste e que terá fim no dia em que me chamares,afinal tu sabes que sempre lá estive para ti,e que nas noites de insónia sabia que eras tu que me chamavas,
escrever-te será cada dia mais fácil,
escrever-te e recordar-te será um acto diário,e a diário te terei sempre aqui comigo,não o juro,mas sei que o farei.
Escrever-te-ei até que gaste todas as letras do teclado,agora escrever-te-ei porque sei que me lês sei que sabes o que te digo,desde aquele tempo em que me doía tanto que não me conhecesses que não conseguia libertar todas as palavras que por vezes tinha vontade de escrever e não o conseguia,agora és mais minha do que nunca,e sei que tu sabes que estarei aqui cuidando do teu filhinho,mesmo sabendo que não demorará muito a juntar-se a ti,sabes que aceito,sabes que começamos muito cedo a lidar com a perda de pessoas que amávamos muito.
Já vai longo este meu desabafo,sei que todas estas palavras serão paisagem na planície onde agora repousas,a tua planície,tomara que já tenhas visto lá de onde estás aquele monte das tuas doces lembranças,espero que já tenhas visto a tua avó e até aquela tua tia chata e difícil.
Espera-me Mãe,espera-me que eu vou ter contigo qualquer dia
Adelina Charneca

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